História da Encadernação
Desde os primeiros tempos da escrita o homem reconheceu a
necessidade de dotar seus documentos de uma cobertura, de modo a
preservá-los do desgaste. Na Idade Média, muito antes da
invenção da imprensa, a arte de encadernar alcançou altos
resultados práticos e estéticos.
Encadernação é a técnica que consiste em costurar folhas
impressas, de pergaminho ou papel, sobrepondo-lhes capas
protetoras a fim de formar um códice (isto é, coleção de
manuscritos superpostos, não apresentados em rolo)
ou um livro. Existem numerosos tipos de encadernação, que
variam segundo as finalidades, as técnicas e os materiais
empregados.
História. Os babilônios
protegiam suas tábulas encerrando-as num invólucro de argila
fina. Os egípcios e romanos conservavam os papiros em caixinhas
de madeira e os dípticos entre duas folhas de madeira unidas por
dobraduras de couro. Só no século IV de nossa era as folhas de
pergaminho ou velino (vellum) passaram a ser agrupadas e
costuradas juntas, como o livro atual. Para proteger esses
códices empregaram-se, de início, finas lâminas de madeira,
logo depois substituídas por capas de couro, que traziam nos
cantos reforços de metal. Alguns livros religiosos eram
encadernados com metais preciosos incrustados de jóias e
pérolas, com relevos de marfim. No caso dos manuscritos comuns,
assim como mais tarde no da maioria dos livros impressos, já se
empregava a encadernação de couro, freqüentemente gravado ou
cinzelado. O couro estampado a frio, isto é, sem ouro,
caracterizava a encadernação monástica.
Certos bibliófilos medievais mandavam recobrir seus livros de
estofos bordados ou de veludo, às vezes com guarnições de
metal. Em geral, as encadernações possuíam cantos e fechos de
latão, e as que eram destinadas a bibliotecas recebiam uma
argola, em que se prendia a corrente pela qual os volumes ficavam
presos à estante.
A encadernação adquiriu grande importância no Renascimento,
especialmente na França, Itália e Alemanha. Os primeiros
encadernadores da época - Jakob Kause, Jean Grolier, Aldo
Manúcio, Tommaso Maioli (Thomas Mahieu), entre outros - usaram
preferencialmente couros (marroquim, bezerro, porco), que
decoravam com motivos geométricos traçados a ouro. A
encadernação chegou ao apogeu nos séculos XVII e XVIII,
sobretudo na França, onde muitas famílias cultivavam o ofício
de geração em geração, acompanhando os estilos mais
apreciados de cada período e as tendências estéticas gerais.
Depois da revolução francesa, decresceu o interesse pela arte,
que veio a renascer mais tarde com Joseph Thouvenin e Georges
Trautz. No Reino Unido, notabilizaram-se no século XIX as
encadernações de Francis Bedford e, posteriormente, as de T. J.
Cobben-Sanderson, discípulo de William Morris, e de Douglas
Cockerell.
A encadernação de luxo, particularmente em couro e percalina,
nas últimas décadas do século XX tornou-se prática dia a dia
mais restrita. A produção industrial de livros repercutiu
negativamente sobre a arte de encadernar, embora se observe um
reflorescimento dessa técnica tradicional, sobretudo na França,
Suíça e Países Baixos.
No Brasil, a encadernação imperial é um estilo particular de
encadernação armoriada (ou brasonada), de uso muito difundido
no segundo reinado, e que se distingue pelas armas do império em
dourado, no centro das pastas, em geral sem outros ornatos.
Encadernação
manual. A técnica da encadernação
manual, ainda empregada atualmente, em quase nada difere da
praticada desde a Idade Média. Os instrumentos necessários são
poucos e simples: bastidor ou costurador, prensa, martelo,
tesoura, agulhas e cola.
Unidos os cadernos em ordem, faz-se a serrotagem de sulcos no
dorso, aos quais corresponderá um número igual de cordões
verticais no bastidor, aonde os cadernos são levados, um a um,
para a costura. Efetuada esta, o dorso, prensado, recebe uma
camada de cola. Procede-se ao aparado das folhas com uma
guilhotina. Quando se trata de volumes grandes, arredonda-se o
dorso, a golpes de martelo e na mesma operação preparam-se os
encaixes, ou sulcos, ao longo das bordas do dorso.
Cortam-se os papelões das capas e da lombada em suas medidas
exatas (empastagem) e prepara-se o material com que serão
revestidos com papel, pano, pergaminho ou couro. Utilizando-se
couro, as bordas são adelgaçadas a faca, para que não
ofereçam muito volume ao serem dobradas sobre a parte interna
das capas. Cola-se o conjunto sob pressão, e o volume é unido a
sua pasta (capas), usando-se folhas de guarda. A fase final do
trabalho é a ornamentação, que compreende a douração dos
planos e da lombada, e o tratamento dos cortes.
Encadernação
mecânica.
A necessidade de encadernar os milhões de volumes publicados
anualmente conduziu à mecanização do processo, por meio de
máquinas que proporcionam alta produtividade e, tanto quanto
possível, eliminam operações manuais. Nas últimas décadas,
as grandes gráficas adotaram a automação. Esteiras rolantes
ligam muitas máquinas em autêntica linha de montagem.
Chegadas do prelo, as folhas são dobradas em cadernos de 64, 32
ou 16 páginas, num ritmo que pode chegar a três mil folhas por
hora. Máquinas automáticas guarnecem o primeiro e o último
caderno com tiras de proteção, podendo ainda ser usadas para
colar lâminas ilustradas nas páginas exteriores dos cadernos.
Lâminas inseridas no interior dos cadernos têm de ser coladas a
mão. Após o agrupamento ordenado dos cadernos por meio de
alçadoras, são eles costurados. Para alguns volumes muito
grandes, emprega-se o sistema de costura lateral.
Ultimamente, passou-se a utilizar, especialmente na edição de
livros baratos, a colagem de folhas soltas em vez de costura, mas
quando essa técnica ainda é adotada os cadernos são submetidos
a uma operação de compressão, para expelir o ar acumulado
entre as páginas. Grande parte do êxito da produção
automática depende da uniformidade da espessura dos volumes.
Guilhotinas dotadas de três lâminas efetuam o corte.
A preparação das capas (pastas) e o encaixamento dos volumes
são operações realizadas por máquinas automáticas ou
semi-automáticas. Algumas preparam as capas a partir de pedaços
de pano já cortados nas medidas adequadas, outras efetuam
também esse trabalho. O pano untado de cola é ajustado sobre os
papelões das cobertas e do dorso, e o conjunto é fortemente
comprimido, antes da preparação dos encaixes destinados a
facilitar o manejo das capas. As operações finais compreendem a
passagem dos volumes por prensas de douração ou gravação a
seco.
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